sexta-feira, 21 de junho de 2013

Eu não me importo com negros, gays, mulheres, e demais "minorias".



Essa semana os protestos continuaram (e pararam também), inclusive houve manifestação em Rio Grande ontem (quinta-feira, dia 20/06/13).
Estive presente na manifestação - pacífica, ainda estou com a cabeça quente por algumas coisas que (talvez)  (não) aconteceram e não acho legal escrever sobre isso por enquanto, pelo mesmo princípio de que não se deve dizer "eu te amo" pela primeira vez quando ainda se está com cheiro de sexo.

Então, pra não deixar pela milésima vez o blog às moscas (embora seja difícil evitar moscas, porque o blog é uma merda né), vou escrever sobre outro assunto por ora.

Estava eu hoje, belo e faceiro (mentira! era, como sempre, feio e com um humor um tanto quanto alterado) no twitter, quando vejo um pessoal comentando sobre o presidente do STF, "ministro negro" Joaquim Barbosa, ou, como alguns insistem, apenas ministro negão, e fiquei matutando sobre a tênue linha entre o "preconceito" contra "minorias" e a forma com que algumas pessoas INSISTEM em usar a raça, o sexo ou a opção sexual da pessoa como um aposto.

É notório que eu sou completamente retardado contra a desigualdade e, por consequência, contra o preconceito também. Acho completamente errado, desnecessário e, principalmente, desumano a forma com que alguns utilizam sua tão fictícia ~~superioridade~~ pra rebaixar, humilhar, enfim, violentar os direitos de todas essas pessoas que de inferiores nada possuem. Muito pelo contrário, a partir do momento em que a pessoa crê que seu "status" o faz superior, torna-se imediatamente inferior.

Muitos foram os anos onde pessoas de diferentes "status" não possuíam direitos iguais. Hoje em dia o mundo é diferente, embora siga enraizado em ideiais onde interessa mais ser ~~superior~~ do que respeitar. Chegou-se a um ponto onde nem se trata mais de respeitar aqueles que não fazem parte do grupo no qual a pessoa está inserida... É questão de auto-respeito e de respeito ao ser humano.

Uma vez eu ouvi uma frase que me marcou: "se tu curar o câncer e for gay, vai ser eternamente conhecido como 'o gay que curou o câncer'". Dentre esses, temos vários exemplos: "Marie Curie, a mulher que descobriu o rádio e o polônio", "Obama, o presidente negro", "Joaquim Barbosa, o 'preto' que é presidente do STF", entre tantos outros. Encontre o erro. Ele tá ali, bem claro, no aposto. Parece mais relevante o que a pessoa "é", qual seu sexo, raça, classe social do que o feito em si. Chega disso!

SIM, eu sei que são conquistas importantes às "minorias", ver membros de seu grupo atingindo uma notoriedade normalmente conquistada, normalmente, apenas pelo pessoal "da maioria". É sempre bom e importante esse tipo de coisa, fomenta (o desejo por) igualdade, mas eu acho que deve-se cindir isso do discurso que volta e meia encontramos na mídia, conversas e discussões. Deixar pra lá o fato da pessoa ser negra, branca, amarela, vermelha, indígena ou qualquer outra "raça" - e isso, lógico, serve pra todos os outros grupos - e enaltecer a importância das conquistas e do SER HUMANO que tá lá. A pessoa que é igual a todos os outros e que consegue se sobressair em alguma área.

Enfim, chego ao ponto que dá título à postagem: basta de se importar com o status dos outros. Isso só faz gerar mais opressão e desigualdade. Sirvam suas façanhas de modelo a toda terra, porém evitemos chamar pessoas como Joaquim Barbosa de "negro" como se fosse um impecílio a ele chegar até onde chegou. Vivemos num mundo de iguais. Chega desse desejo íntimo de nos distanciarmos, de nos tornarmos desiguais. Tornemo-nos iguais. Aliás, percebamos que somos iguais.

Viva a igualdade!
Sigamos lutando pela a "raça" ariana, a negra, os asiáticos, os nordestinos, os indígenas, os que são de várias misturas, pois o mundo é uma mistura. 
Sigamos também pelos direito de ser homo, bi, hetero, trans, travesti, ou o que quer que seja.
Mulheres, homens, idosos, crianças, portadores de necessidades especiais ou não, bonitos, feios, judeus, cristãos, ateus, agnósticos, hindus, espíritas, entre outras "diferenças".
Sigamos sendo humanos e iguais.
Está mais do que na hora de percebermos que, batidos num liquidificador, somos todos a massa homogênea que resulta. Isso é ser humano. Isso é o ser humano.

Importe-se com a pessoa, com seus feitos, com sua personalidade e não apenas com aparências.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Mamãe, eu não queria.

Olá, doutores! 

Os dias tem sido punk no Brasil. Protestos teoricamente pacíficos sendo reprimidos com violência completamente desproporcional, gente ferida, caos. Fiquei assistindo de casa, atônito, aos comentários nas redes sociais (que tratam os fatos de uma forma mais "sincera" do que os demais meios de comunicação) e senti um frio na espinha. Sim, fiquei perplexo com os vários comentários que vi, filtrei as piadas e em vários momentos pude sentir o que tava acontecendo como se eu mesmo estivesse lá. Em outros, estupefato pelo forma que algumas pessoas trataram a manifestação: "arruaceiros", "desnecessária", "idiota" foram as palavras que mais me deixaram chocado. Mesmo assim, meus olhos brilharam quando vi toda aquela gente brigando pelos NOSSOS direitos. 

Normalmente nós, brasileiros, assistimos a manifestações de grande porte como meros observadores, que é o que temos sido há muito tempo. Estamos enferrujados, ao que parece. Simplesmente aceitamos. Como diz a música, "brasileiros pós-ditadura ainda se encontram em estado de coma semi-profundo". 

Não quero falar sobre a manifestação em si, acredito que todos nós sabemos que ela é legítima e que a ponta da lança do governo, também conhecida como polícia, desferiu estocadas brutais e que remetem à barbárie em pessoas praticamente indefesas. Crianças, idosos e até mesmo pessoas que estão no auge de suas capacidades físicas foram vítimas que não podiam se defender à altura, privadas de uma defesa legítima. Isso é senso comum. Ninguém em pleno gozo de suas capacidades mentais acha violência uma alternativa pra resolver qualquer tipo de conflito.

Pensei bastante antes de fazer esse texto de merda, discuti com pessoas que mostraram certa inteligência e outras que me deram vontade de aplicar o caetano veloso ou esse vídeo aqui e decidi que iria falar sobre o que mais chamou a minha atenção de forma negativa. Pessoas e atitudes que eu não queria ser/ter. Mamãe, eu não queria ser essa gente (e servir o "exército" também não!).

Em primeiro lugar, a propaganda eleitoral gratuita que foi feita em meio às manifestações. Sei que várias pessoas vão me criticar por eu falar isso, mas eu não acredito que sejam manifestações ligadas a mudar-se a maneira de que o partido governa, mas sim ligadas às políticas que vem sendo realizadas há anos por políticos de vários partidos. Luta-se a favor de direitos que qualquer partido deveria reconhecer e que mesmo assim não o fazem, portanto é desnecessário ir lá pra mostrar que "meu partido apoia esta causa, vote nele na próxima eleição pra isso tudo mudar". SIM, eu sei que protestos sempre têm cunho político e buscam mudanças políticas, mas tentar transformá-los em comício, pra mim, é estupidez do maior calão. 

Outro fato é a total IGNORÂNCIA CÉTICA-UMBILICAL com que umas pessoas tem tratado tais movimentos. "Ah, tão bloqueandos as ruas, só tão atrapalhando e enchendo o saco"; "ah, eu não tenho nada a ver com isso, pra quê vou me meter?"; "por que tem um bando de burguezinho fazendo protesto se eles nem andam de ônibus?"; e o abominável "POR QUE TANTA COISA POR CAUSA DE VINTE CENTAVOS?".

Muito antes de eu entrar na universidade e decidir qual seria o meu curso superior (em que pese, curso Direito), eu sempre pensei "porra, a vida não anda fácil pra maioria das pessoas, será que tem como mudar sem prejudicar tudo o que conquistamos até hoje?", acreditando, inocentemente, que todo mundo tivesse esse pensamento. Nunca estive tão errado em toda minha vida. Por vezes penso que eu era completamente idiota e não apenas ingênuo por pensar nisso. (EM TEMPO: sou completamente idiota por vários outros motivos, mas esse aí dói na minha alma). Sempre acreditei cegamente que nós, seres humanos, éramos ligados por uma espécie de coleguismo universal que não permitiria que deixássemos os outros caírem em prol da nossa subida (NOSSA, CARA, EU REALMENTE ERA BURRO). Resumindo: eu queria mudar o mundo. Ainda quero.

Fico triste em saber que as pessoas não têm discernimento pra saber que ninguém está protestando pelos centavos em si, mas pelo que essa fração de real significa, o que ela enseja. Foi-se o tempo onde o governo dava o tapa e escondia a mão, hoje em dia ele nos dá na cara descaradamente e nem se preocupa em se esconder, pois está - em seu pensamento - blindado. É isso o que se deseja atacar: os senhores que andam de terno e gravata em suas megaempresas e que acha que distribuir cestas de páscoa a seus funcionários o faz uma pessoa que trabalha em prol da sociedade, os políticos que sentam em mesas redondas pra debater como fazer pra reduzir gastos e decidem que cortar o salário dos professores meses após aumentar seus próprios subsídios pode salvar os cofres públicos - que estão abarrotados de dinheiro que deveria, mas não volta a quem paga impostos. É uma luta contra o sistema político, a forma de governar e contra nós mesmos.

Pessoas que ACHAM que não tem nada a ver com quaisquer movimento que não faça parte. Não entendo, de verdade. Não precisa ser militante e empunhar seu COQUETEL MOLOTOVINAGRE, basta não atrapalhar e compreender que as pessoas que estão lá estão lutando por direitos que, pasme!, são teus também. Se é social, é coletivo. De alguma forma ou outra, ele bate na tua porta. Acho bem estranho uma pessoa "tá vendo tudo e fica aí parado com cara de viado" (como já dizia o autor desta e da música que dá o título ao post), mas é um direito dela. Mas criticar já é demais.

Os burguezinhos de moletom da GAP que andam de carro e estavam lá merecem os meus parabéns e não críticas imbecis. Lutar por direitos que tu não necessariamente fará uso é louvável e, de certa maneira, me dá uma esperançazinha de que talvez as coisas possam mudar. Acho que essa "legítima defesa (de direitos) de terceiros" é uma das coisas mais interessantes que vi por aí. Não queria o tal Jesus Cristo que todos fôssemos pro céu? Ele já tava garantido lá e mesmo assim quis puxar todo mundo pra cima. Mutatis mutandis, é a mesma atitude. Luta-se por todos. Coisa de filme? Não, foi a realidade dos últimos dias (e de vários outros em vários locais do mundo). 


Desta maneira, ir às ruas é completamente importante nos dias de hoje. Se não querem nos ouvir, façamo-nos ouvir na marra. Se tem uma coisa que eu queria, mamãe, era estar lá, mesmo que levando balas de borracha e spray de pimenta, efeitos colaterais. Você, que foi e vai nas próximas manifestações, grite por mim, vou estar gritando por ti da forma que eu puder. Você, policial, troque sua arma por um abraço, entenda que você está indo contra ti mesmo, contra tua família. Cesse o fogo, termine a violência antes mesmo que ela comece. Lembre-se que, ao final, somos todos iguais. NÓS podemos mudar o mundo, basta não ficarmos assistindo tudo de cima do muro (nem morrer de overdose, por favor). Aos que pensam que estão resguardados: DO NOT FUCK WITH US.


Geodesicamente resistimos.