sexta-feira, 4 de março de 2011

Universidades, Trotes e suas Proibições.

É proibido fumar em áreas fechadas. Explicação: atinge demasiadamente os fumantes passivos - as pessoas que não fumam e ficam inalando a fumaça. Corretíssimo, ninguém deve ficar fungando na fumaça dos outros. E ninguém pode obrigar alguém a fazê-lo. Quer fumar, simplesmente saia do recinto.
Proibido dar trote na universidade. Explicação: às vezes, os trotes atingem os calouros de forma negativa. Às vezes.
O que é o trote? Aliás, qual a fundamentação social de um trote? Pra quê ele serve? Quais os limites?
Bom, como todo mundo sabe, eu sou aluno do curso de Direito da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, aka FURG. Estou no segundo ano e, como todas os veteranos e bixos, aguardava ansiosamente para dar o tão famoso trote nos bixos. Foram várias horas de reunião para decidirmos qual a melhor maneira de acolhermos e fazer com que os calouros sintam-se em casa, como membros do galho que é o curso de Direito na "árvore científica-genealógica" da Universidade. Horas pensando algo que não vá ser ofensivo ou humilhá-los, tendo em vista que no meu curso não há registros de trotes violentos e/ou humilhantes. Fica tudo na brincadeira e todos com o direito de pedirem para não participarem ou, em casos extremos, para que pare.
Feita a introdução, gostaria de dizer que me senti frustrado quando soube que qualquer tipo de trote fora proibido pela Universidade e que seriam veementemente "combatidos" e punidos. Me perguntando o porquê dessas sanções, o que vem à minha cabeça é que os bons pagam pelos maus. Sim, por mais que pintemos as unhas ou os rostos, sempre levaremos a culpa dos filhos da puta que fazem merda dos trotes uma maneira para se vingarem das humilhações dos anos anteriores. Essa herança precisa ser exterminada, mas ninguém arrisca perder sua chance de vingança. Ninguém. Se tivesse trote entre os professores, seria a mesma merda coisa.
Fico indignado e ao mesmo tempo surpreso ao ver a repressão que se faz em torno de meras brincadeiras com os novatos, principalmente quando essas brincadeiras são feitas de forma amigável e sem o intuito de agredir física e psicologicamente uma pessoa. Uma tinta aqui, uma música acolá jamais fez mal a alguém. Muito pelo contrário, faz bem. Todo veterano já foi novato e já sentiu a sensação de estar completamente integrado à faculdade no momento do trote. É algo como ser iniciado num culto e não um preço que se paga obrigatoriamente para simplesmente passar vergonha. É um momento de integração, de brincadeiras.
Porém sempre há os retardados que se passam dos limites, cruzando a linha entre diversão mútua e diversão meramente de uma das partes, fazendo com que inicie-se uma reação em cadeia que perdurará por vários anos até que haja uma turma que pegará mais leve. Quase ninguém percebe que o trote desse ano se repetirá no próximo e refletirá nos bixos dos bixos dos bixos dos bixos. É uma bola de neve: uma vez ruim, sempre será pior, porém, quando bom, sempre tende a melhorar.
Num trote, há muito mais do que a mera tradição de dar trote nos bixos, há a tradição do trote, de como ele é feito. Marginalizá-lo é simplesmente uma falta de consciência dos responsáveis, enquanto impor limites e ensiná-los é muito mais cabível e interessante. O trote sempre vai ocorrer e, quanto mais escondido, mais perigoso e o perigo aumenta todo ano. Por fim, ficarão três recados.
Aos Criminalizadores do Trote: Vão se foderem Busquem novas maneiras de fazer com que não hajam abusos nos trotes. Criminalizar não é a solução!
Aos Veteranos: Não façam com os outros o que vocês não gostariam que fizessem com vocês. O trote precisa ser bom pra todos, principalmente pros próximos bixos, para que se mantenha a boa corrente.
Aos Bixos: Aproveitem, aprendam com o trote. Não aceitem caso se sintam ofendidos. Não é necessário fazer nada que vocês não queiram. Só não façam a bobagem de entrar numa bolha e deixarem passar a sua entrada na universidade em branco - não, isso não quer dizer "sejam pintados".